Gilmar Marcílio
(o autor é um filósofo gaúcho e colunista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre)
Tenho a rica oportunidade de conviver com muitas pessoas. Cada uma com sua maneira única de ser e agir. A tendência é nos aproximarmos daquelas com as quais temos afinidades e deixar de lado as que pensam diferente de nós. É uma péssima ideia. Ao alimentar os relacionamentos só com os iguais, a propensão será de enxergar a realidade mediante um único prisma, rechaçando o que não for espelho. Já fui adepto desta religião. Agora, inclino-me a aceitar e aprender com os que me desafiam a olhar para a existência por uma perspectiva diversa. Em algumas ocasiões, no entanto, precisamos tomar partido. A educação e a fineza no trato com os outros sempre me pareceu essencial para o bom convívio. Ao nos depararmos com criaturas grosseiras, de nada conta se têm cérebros brilhantes, dinheiro, posição social. A partir dessa percepção, comecei a ficar mais atento nos acontecimentos ao redor. Sinto-me agredido quando vejo alguém humilhar outro ser humano pelo puro deleite de se sentir “superior”. Posso não ter nada a ver com a situação, mas é difícil manter a calma. Nunca ataquei a jugular de ninguém, mas estremeço por dentro e em várias ocasiões me manifestei diante dessas injustiças. Elas definem o caráter dos ofensores.
Tenho observado, com distanciamento, como reage uma menina adorável ao ser confrontada com a arrogância de seu chefe. É uma ótima funcionária, executa com profissionalismo as tarefas a ela atribuídas, e mesmo assim recebe chibatadas verbais a toda hora. Como primeiro exercício, esquadrinho a vida do agressor. Neste caso, tudo parece estar bem: família, trabalho, afeto, finanças. Por que diabos, penso eu, tendo suas necessidades físicas e emocionais supridas, age desse jeito? A razão só pode ser essa: é ruim de fato. Pouco importam as circunstâncias e nem o quanto o seu entorno está em harmonia: gosta de espezinhar, mandando no pedaço. É muito sem sentido. Abstive-me de sugerir que frequentasse uma escola de reabilitação mental.
No lado oposto, está a presença adorável de um amigo envolto em gentilezas. Tento imitá-lo ao máximo, pois esse me parece ser o caminho para despertar em mim uma sensibilidade maior e o desejo de acolhimento. É querido demais. Dá a impressão de ler minha mente, antecipando-se ao que me faz feliz. Permanece diligente e procura fazer pequenos gestos para demonstrar o prazer advindo de nossas conversas. Quase de imediato, penso: como gostaria de contaminar aquele outro ser com este comportamento tão delicado. Embora tenha minhas dúvidas se isso iria provocar qualquer mudança. Parece, aquele, se orgulhar de ser estúpido – e aqui, propositalmente, evito amenizar o adjetivo.
Reflita e conclua por você mesmo. É melhor ser temido ou admirado? Envenenar os dias com raiva ou deslizar suavemente pela vida, distribuindo simpatia? A escolha vai determinar como verá seu mundo e como ele lhe retribuirá.
Seja gentil