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Quem pode permanecer firme na presença de Deus?

QUEM PODE PERMANECER FIRME?

            O povo de Asdode decide enviar a arca à cidade filisteia de Gate (5.7,8). Será que Gate vai conseguir lidar com o peso da glória de Deus? Mas também ali Deus envia tumores (v. 9). Assim, eles enviam a arca à cidade filisteia de Ecrom (v. 10). Ocorre o mesmo. Querem mandar a arca embora, pois “havia pânico mortal em toda a cidade; a mão de Deus pesava muito sobre ela” (v. 11). Ninguém fica sem ser afetado (v. 12). Deus os está esmagando sob o peso da arca.

            Finalmente, após sete meses, os filisteus decidem enviar a arca de volta a Israel com uma “oferta pela culpa” de cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro uma para cada das cidades da Filístia (6.1-6,17,18- a palavra “tumor” também significa “cidade fortificada”). Os filisteus podem ter sido afetados pela peste bubônica, que causa inchaço dos nódulos linfáticos e é disseminada por ratos. Isso pode explicar por que eles devolvem a arca com tumores e ratos de ouro. Os filisteus apresentam uma oferta pela culpa para retirar a mão pesada de Deus (v. 3). Eles não conseguem viver com a glória de Deus.

Mas, para se certificarem de que tudo não é uma coincidência, colocam a arca sobre duas vacas que deram cria. Todo o instinto dessas vacas deve incliná-las na direção de suas crias. Mas, em vez disso, elas vão para Israel, levando a arca para casa (v. 7-12).

E todos viveram felizes para sempre.

Ao menos, é o que poderíamos esperar. A arca está de volta ao seu lugar entre o povo de Deus, e tudo está bem. Os líderes filisteus observam o avanço da arca e, quando veem que chegou em segurança de volta a Israel, vão para casa (v. 13-16). Tudo está bem.

Todo o peso da glória de Deus se retirou da Filístia e a arca está segura em seu lugar.

Mas esse não é o fim, e o próximo episódio não é um episódio feliz. “O SENHOR, contudo, feriu alguns dos homens de Bete-Semes, matando setenta deles, por terem olhado para dentro da arca do SENHOR. O povo chorou por causa do pesado golpe que o SENHOR desferira, e os homens de Bete-Semes perguntaram: Quem pode permanecer na presença do SENHOR, esse Deus santo? A quem enviaremos a arca, para que ele se afaste de nós?” (v. 19,20, NIV).

Isso não é acidental na história. A narrativa dos capítulos 4 a 7 é organizada segundo uma estrutura quiástica, um modo hebreu comum de organizar uma história em pares correspondentes como as camadas de uma cebola.

I.          Uma batalha em Ebenézer é vencida pelos Filisteus (4:1-11)

II.        A arca de Deus está cativa nas mãos de gentios na Filístia (4:12-22)

III.       A arca de Deus causa tormento na Filístia (5:1-12)

IV.       A arca de Deus Retorna (6:1-18)

V.         A arca de Deus causa tormento em Bete-Semes (6:19-21)

VI.       A arca de Deus está nas mãos de gentios em Quiriate-Jearim (7:1,2)

VII.      Uma Batalha em Ebenézer é vencida pelos israelitas (7:3-17)

Em uma estrutura quiástica, o mais importante muitas vezes está no centro; e no centro dessa história está a volta da arca. Deus desfere um “pesado golpe” no povo de Bete-Semes (6.19). Nem tudo está bem. O peso da glória de Deus agora esmaga o seu próprio povo. A arca era perigosa para os filisteus, mas é também perigosa para os israelitas.

Por quê? O povo de Bete-Semes comete três erros.

Em primeiro lugar, sacrificam vacas quando deveriam ter sacrificado touros (Lv 1.3).

 Em segundo lugar, ostentam a arca, colocando-a em uma grande pedra para que todos a vejam, quando deveriam tê-la coberto (Nm 4.5).

Por fim e decisivamente olham dentro da arca. para

Esse é um momento-chave na história. A queda de Dagom perante Yahweh é hilária; naturalmente nos deleitamos com humor do episódio. Mas o incidente presente nos pega de surpresa.

Ele nos choca e nos torna sóbrios, ou ao menos essa deveria ser nossa reação. Não podemos ser levianos com Deus. Ter Deus entre nós é uma questão de peso. Deus é perigoso. É como se a sua santidade fosse radioativa.

Há um peso inevitável de glória que exige ser levado a sério. No começo da história, pensamos que os filisteus são uma ameaça a Israel. Mas no fim das contas o próprio Deus também é uma ameaça.

Esse episódio marca o fim do santuário em Siló pois o próprio Deus traz destruição ao seu Tabernáculo em Siló. Esse é o local de sacrifício, o local em que os sacerdotes ministravam, o local em que Deus estava presente. (Lembram semana passada quando disse: Que chega o momento que Deus diz: Acabou a brincadeira?)

Samuel cresceu na presença de Deus porque cresceu em Siló (1Sm 2.21). Mas agora o próprio Deus profana Siló por meio dos filisteus. Por quê? Porque Israel já havia profanado o lugar por meio das ações dos filhos de Eli (2.12-17). Séculos mais tarde, JEREMIAS advertiria o povo a aprender a lição de Siló:

“Portanto, vão agora a Siló […] onde primeiro fiz uma habitação em honra ao meu nome, e vejam o que eu lhe fiz por causa da impiedade de Israel, o meu povo” (Jr 7.12; veja também 26.1-6).

Qual é a lição de Siló? Não podemos ser levianos com Deus.

O povo de Bete-Semes apresenta esta pergunta: “… “Quem pode permanecer na presença do SENHOR, esse Deus santo? “…” (15m 6.20). A arca da presença de Deus não pode ser carregada pelos filisteus ou por Israel. “Onde ela pode permanecer com segurança?” – eis a pergunta dos israelitas. E essa é a pergunta que toda a história nos apresenta. Quando o peso da glória de Deus cai sobre você, quem pode permanecer em pé? Dagom não consegue – diante da arca do Senhor, ele precisou ser levantado e depois foi decapitado. Mas agora parece que o povo de Deus também não pode permanecer diante dele.

O povo de Bete-Semes lida com a arca do mesmo modo que os filisteus lidaram, enviando-a a outra cidade (6.21— 7.2a). Seria engraçado se não fosse tão sério.

Felizmente, há uma resposta melhor e ela vem da reintrodução de Samuel. Samuel não é mencionado nos capítulos 4 a 6. Ele é apresentado a Israel no capítulo 3 como aquele que traz a palavra do Senhor. E somente quando Samuel lidera Israel há esperança.

COMO PERMANECER FIRME NA PRESENÇA DE DEUS

O povo volta a Deus (7.2). Mas Samuel diz que, se esse arrependimento é genuíno, eles devem se livrar de seus deuses estrangeiros (v. 3). O povo não só confessa seus pecados, mas também age, livrando-se de seus BAALINS E ASTAROTES. Passa a servir “somente ao SENHOR” (v. 4). Isso é verdadeiro arrependimento. Não são só palavras (6.6). São ações. O povo foge da tentação. Se você estiver verdadeiramente arrependido, então fará tudo o que puder para evitar o pecado.

Tenho visto pessoas que, mesmo expressando tristeza pelo pecado, recusam-se a fazer o que precisam para evitá-lo. Dizem que “tudo ficará bem”, “não acontecerá de novo”, “tudo está sob controle”, “a situação não é tão séria”. A realidade é que estão arrependidas quanto aos efeitos do pecado, mas ainda querem se agarrar ao próprio pecado. Precisam sentir o peso da glória de Deus. O povo de Bete-Semes olha para dentro da arca e setenta deles morrem!

Fuja da tentação. Corra do pecado. Faça tudo o que puder. Em seu cântico, Ana diz: “… por ele são as obras pesadas na balança” (2.3, ARC). Seus atos são pesados, e a medida pela qual são pesados é o peso da glória de Deus.

O verdadeiro arrependimento leva à ação. Mas a adoração também é importante. Samuel lidera o povo em um ato coletivo de adoração (7.5,6). O derramamento de água não tem precedente no Antigo Testamento. Talvez tenham inventado isso. Talvez o relacionassem ao jejum: eles estavam negando a si mesmos comida e bebida e representaram tal fato simbolicamente derramando água no chão perante Deus. A questão é esta: arrepender-se não é somente afastar-se do pecado

Isso pode bastar para minha tentativa de ser suficientemente bom para Deus. O verdadeiro arrependimento é um movimento para longe do pecado e de volta para Deus. A reunião, o jejum, a confissão e o derramamento de água tornam o arrependimento deles focado em Deus.

Pessoas que levam a glória de Deus a sério se arrependem. E pessoas que levam a glória de Deus a sério podem permanecer firmes em sua presença, pois Deus leva sua própria glória a sério por meio do sacrifício.

A resposta apropriada à ameaça da glória de Deus é o sacrifício (v. 7-9). O sacrifício de um animal era uma representação.

O que simboliza? Há uma pista na história. Deuteronômio 28.64-68 diz que a maldição suprema da infidelidade à aliança é o exilio. Mas quem é exilado nessa história?

Deus! As palavras “a glória se foi”, em 1Samuel 4.21,22, são literalmente: “Deus foi para o exílio”. O salmo 78 recorda essa história e descreve a arca como indo para o “cativeiro” (SI 78.61). O povo merece o juízo do exílio. Mas, em vez disso, é o próprio Deus que é exilado. Ele toma sobre si o juízo do povo.

Isso aponta para a cruz. O sacrifício de um animal é o símbolo. A cruz é a realidade. Na cruz, o próprio Deus, na pessoa de seu Filho, experimentou o juízo. Ele experimentou o juízo do exílio. Mas, em vez disso, é o próprio Deus que é exilado. Ele toma sobre si o juízo do povo.

Quem pode permanecer em pé?

Somente aqueles cujo pecado foi julgado por meio do sacrifício; somente aqueles que têm um substituto que assumiu o juízo deles. Romanos 3.23 diz: “pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. Isso é o que o pecado é – estar destituído da glória de Deus.

É não levar Deus a sério, roubando sua glória, glorificando a nós mesmos ao adorarmos outros deuses. Deus leva isso a sério tão a sério que ele pode nos perdoar somente por meio do sacrifício. Somente somos “justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue” (3.24,25).

Deus leva sua glória tão a sério que ele mesmo toma o peso da glória sobre si. Jesus vem como nosso representante e nosso substituto. O peso da glória de Deus esmagou Jesus a ponto de a vida sair dele. Ele morreu em meu lugar.

Nesses capítulos de 1Samuel, a derrota de Deus demonstra ser o meio da vitória. A arca de Deus é levada ao templo de Dagom como um troféu de vitória e homenagem à superioridade de Dagom. Mas, de manhã, Dagom está caído perante Deus. A derrota de Deus leva à sua vitória sobre os filisteus.

O mesmo acontece na cruz. O corpo morto de Jesus era o troféu de vitória de Satanás. Mas, por meio da morte de Cristo, o poder de Satanás foi destruído. O triunfo de Satanás tornou-se sua derrota suprema. Jesus saiu vitorioso da tumba e nós saímos junto com ele.

No seu cântico, Ana entoou: “[O Senhor] levanta do pó o necessitado e do monte de cinzas ergue o pobre; […] [ele] lhes dá lugar de honra” (2.8). Esse lugar é literalmente “um trono de glória” ou “um trono de peso”. O que aconteceu a Ana no capítulo 1 é o que aconteceu a Israel no capítulo 7; e é o que nos acontece na cruz. Somos levantados da desonra para a glória.

“… “Quem pode permanecer na presença do SENHOR, esse Deus santo?…” (6.20).

Romanos 5.1,2 responde: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus”. Por meio da cruz, a glória de Deus deixa de ser nosso medo e torna-se nossa esperança. Nós nos gloriamos na glória.

Essa seção de 1Samuel começou com uma batalha entre Israel e os filisteus e termina também com uma batalha. Antes, em 4.5-7, os filisteus ouviram e ficaram com medo. Agora, em 7.7, são os israelitas que ouvem e ficam com medo. Mas, quando os filisteus atacam, o Senhor troveja do céu. Os filisteus entram em tamanho pânico que são derrotados (v. 10,11). Em 2.9,10, Ana prometeu que Deus trovejaria do céu contra aqueles que se opusessem ele (veja também 2 Sm 22.14). Isso é exatamente o a que acontece em 1Samuel 7: Deus troveja do céu para julgar as nações e libertar seu povo. O resultado é paz (v. 13,14). Enquanto Samuel está oferecendo sacrifício, Deus propicia a vitória. Essa é a vitória por meio do sacrifício.

LEVANTAR NOSSO EBENÉZER

O ARCO NARRATIVO passa da tirania (4.1,2) à paz (7.14). Ambos os extremos desse arco são perpetuados em um nome.

O exílio de Deus foi perpetuado no nome “Icabode” (4.21). Agora a vitória de Deus é perpetuada em outro nome, “Ebenézer” (7.12).

“Ebenézer” era o local da derrota de Israel em 4.1-11. Agora ele se torna o local de vitória.

“Icabode” recebeu esse nome porque “a glória se foi de Israel”. Em contraste, “Ebenézer” significa “pedra de ajuda”, e a explicação é: “Até aqui o SENHOR nos ajudou”.

Isso funciona como uma promessa da libertação futura de Deus, se Israel se arrepender de sua idolatria e colocar sua fé no sacrifício.

O hino Fonte és tu de toda bênção, de Robert Robinson (1735-1790), conténs os versos:

“O meu Ebenézer ergo, pois Jesus me socorreu e, por sua graça, um dia vai levar-me para o céu”.

Nem sempre cantamos esses versos, pois a maioria das pessoas não conhece a origem do significado de “Ebenézer”. Mas é daqui que a palavra vem

Para nós, nosso Ebenézer é a cruz. Na cruz enxergamos a seriedade do pecado, o peso da glória e a ajuda generosa de Deus aos pecadores. Erguemos a cruz e dizemos: “Até aqui o Senhor nos ajudou”. E, se ele nos ajudou dando o seu próprio Filho, então certamente nos levará em segurança para casa na glória:

“Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?” (Rm 8.32).

Quando você se sentir dominado pelos seus problemas, ou quando sentir que Deus o abandonou, ou quando se sentir ameaçado pelas circunstâncias da vida, olhe para a cruz. A cruz é o nosso Ebenézer, a grande declaração de ajuda de Deus. O modo de realmente levarmos a sério a glória de Deus é erguendo a cruz.

Bibliografia

BARKER, K. O. (2003). Bíblia de Estudo NVI. São Paulo: Vida.

CHESTER, t. (2019). 1 Samuel para você. São Paulo: Vida Nova.

HENRY, M. (2010). Comentário Bíblico do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.

KOLLER, C. (1999). Pregação expositiva sem anotações – Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo: Mundo Cristão.

PINTO, C. O. (2006). Foco e Desenvolvimento no AT. São Paulo: Hagnos.

RICHARDS, L. O. (1995). Guia do Leitor da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD.

Pr. Sandro Eugênio

Eu sou formado em Teologia, Mestre em Ciências Sociais pela, UFRN e Reitor da Escola Cristã de Pastores em Natal, RN. Pastor a mais de 27 anos na Igreja Batista Cristã e quero subir com você para o monte Everest do conhecimento Bíblico. Com dedicação e aplicação dos conceitos aqui ensinados você se motivará em aprender e a proclamar a Bíblia, Vai aprender sobre pregação, leituras e se motivará a desenvolver o hábito de aplicar e viver a Poderosa Palavra de Deus.

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