“O discípulo deixa sua relativa segurança de vida e segue para a completa insegurança (isto é, na realidade, para a absoluta segurança e proteção da comunhão com Jesus)…”
(Dietrich Bonhoeffer, em “Discipulado”)
Vivemos tempos em que a fé muitas vezes é apresentada como um meio para alcançar segurança, estabilidade e previsibilidade. No entanto, Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano que pagou com a vida por sua fidelidade a Cristo em meio ao nazismo, nos convida a uma visão radicalmente diferente do que significa seguir a Jesus.
Bonhoeffer afirma que o discipulado nos leva a abrir mão de uma “segurança” aparente, construída em torno do controle humano, do conforto e das expectativas previsíveis. O convite de Cristo — “Siga-me” — é, na verdade, um chamado à entrega total, à confiança irrestrita e à obediência mesmo quando não sabemos qual será o próximo passo.
A Ilusão da Segurança Humana.
O mundo em que vivemos nos ensina a buscar estabilidade: um bom emprego, uma rotina confortável, planos bem estruturados. Tudo parece calculável. No entanto, Bonhoeffer nos lembra que essa “segurança” é ilusória. A vida é frágil, os planos podem ruir, e o futuro é incerto. Aquilo que parece previsível é, de fato, imprevisível. A nossa confiança em nós mesmos é instável.
É nesse contexto que o chamado de Jesus se torna ainda mais significativo: Ele nos chama a deixar a falsa estabilidade deste mundo para entrar na única segurança verdadeira — a comunhão com Ele.
A Insegurança que Liberta.
Bonhoeffer não romantiza a caminhada com Cristo. Ele fala de “insegurança”, de sair do conforto para a incerteza. Mas, paradoxalmente, essa “insegurança” é o lugar onde encontramos a proteção absoluta: a presença fiel de Jesus. Deixar tudo por Cristo não é perder-se, é encontrar-se. É sair do domínio das possibilidades humanas (limitadas, e por vezes ilusórias) e entrar no espaço das possibilidades divinas, onde tudo é possível àquele que crê.
O Discipulado como Entrega Radical.
Essa entrega não é parcial. O verdadeiro discipulado exige rendição total. Não é apenas seguir princípios morais ou frequentar cultos, mas viver em dependência do Senhor em cada aspecto da vida. É estar disposto a abrir mão dos nossos projetos pessoais para abraçar o propósito eterno de Deus. É trocar o conforto da zona de controle pelo desafio de andar por fé.
Bonhoeffer sabia, pela própria experiência, que seguir a Cristo pode custar tudo — inclusive a própria vida. Mas também sabia que, paradoxalmente, esse caminho de renúncia é o único que conduz à verdadeira liberdade.
Conclusão:
O discipulado não é uma proposta religiosa confortável; é um chamado de Jesus para vivermos nEle, com Ele e por Ele. E, nesse chamado, encontramos não o acaso, mas o propósito eterno. Não a insegurança total, mas a segurança plena. Não as limitações humanas, mas a liberdade de sermos filhos e filhas de Deus.
Bonhoeffer termina essa reflexão apontando que aquilo que o mundo vê como loucura — a entrega radical — é, na verdade, a única realidade libertadora. Seguir a Cristo é deixar o domínio das possibilidades finitas para viver no campo das infinitas possibilidades de Deus.
Que o Senhor nos desperte e que sejamos discipulos!
Excelente reflexão, pastor Sandro. Que o Senhor esteja em todo tempo, abençoando teu ministério.